quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Discurso de eliminação de Laisa


“Quando o cinema foi inventado, a imagem de um trem chegando à estação apavorava os espectadores, que ficavam com medo, achando que o trem ia sair da tela e entrar na sala de projeção”. Isso foi lá no fim do século XIX.
Agora nesses tempos de 3D, em que as imagens se projetam mesmo para fora da tela numa ilusão irretocável, parei para pensar em certas reações que vocês provocam. Como o trem chegando à estação causa enorme susto e até mesmo eventual histeria, ver vocês fazendo as coisas mais simples, que todo mundo faz todo dia: fazendo o almoço, o jantar, fazendo de conta, amando, odiando, mentindo, falando a verdade, montados, desmontando, fazendo as coisas mais banais de todo dia. Banalíssimas.
Como anúncio da eliminação de hoje, eu peço para ler, principalmente como consolo, o poema mais famoso de Elisabeth Bishop que se chama “Uma Arte”.
Não é tão difícil dominar a arte de perder;
tanta coisa parece preenchida pela intenção de ser perdida
que sua perda não é nenhum desastre.
Perca alguma coisa todo dia. Aceite a novela das chaves perdidas,
a hora desperdiçada, aprender a arte de perder não é nada.
Exercite-se perdendo mais, mais rápido:
lugares, e nomes e... para onde mesmo você ia viajar?
Nenhum desastre...
Perdi o relógio de minha mãe. E olha, minha última e
minha penúltima casas ficaram para trás.
Não é difícil dominar a arte de perder.
Perdi duas cidades, adoráveis. E, mais ainda, alguns domínios,
propriedades, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, mas não foi um desastre.
Até mesmo perder você (a voz gozada, o gesto que
eu amava) eu não posso mentir. É claro que não é tão difícil dominar
a arte de perder apesar de parecer (pode Escrever!) desastre.
E você perdeu, Laisa".
 

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